Maçonaria: cá como lá?

O escrito abaixo é um artigo apresentado originalmente no todo poderoso jornal The New York Times, considerado o mais importante do planeta. Ele é um conjunto de comentários feitos por um profano, o autor, amparado nas opiniões de um professor universitário. Embora tenha somente pouco mais de oitocentas palavras, retrata com assintótica fidelidade a trajetória recente da Maçonaria norte-americana, sua imensa perda de adeptos e a vulgarização alarmante e descaracterizante que dela tomaram conta. Algumas passagens são primorosas representações do que se passa por aquelas paragens. O muito ruim é que muitos de nós poderíamos pensar que, uma vez omitida a origem, o texto tratasse da Maçonaria nacional.


Os segredos do templo

The New York Times 13/06/06

John Tierney

Para uma investigação profunda do mistério mais secreto de uma poderosa irmandade secreta, o primeiro passo, como qualquer leitor de Dan Brown sabe, é pedir a ajuda de um professor da área de humanas. Felizmente, James Twitchell, um professor de inglês da Universidade da Flórida, estava disponível para o trabalho de detetive.

Seguimos para Alexandria, no Estado de Virginia, e nos aventuramos pelo grande templo da maçonaria americana – mais de 100 metros de altura, provavelmente maior até mesmo do que a cripta dos maçons descoberta por Nicolas Cage em “A Lenda do Tesouro Perdido.”

Nós analisamos a estátua de cinco metros de altura de George Washington, feita de bronze e um mural dele em um terreno em que cimentou a pedra angular do Capitólio. Vimos janelas com vitrais retratando maçons como Benjamin Franklin e ouvimos como o presidente Truman havia ido até lá para se encontrar com seus irmãos de maçonaria.

Nós visitamos o pavilhão onde os maçons se reúnem, um salão supostamente projetado segundo a planta do Templo de Salomão, apesar de lembrar mais a Câmara dos Lordes, na Inglaterra. Havia lugares para centenas de pessoas. Contudo, um membro da irmandade, Jim Williams, nos disse que apenas 15 ou 20 maçons aparecem em uma reunião regular, a maioria deles são homens que já se aposentaram, como o próprio Williams.

“Meu filho costuma de dizer que a média de idade de um maçom hoje é medida por quanto tempo ele já está no hospital”, ele nos contou.

Aparentemente eles não estão comandando o mundo. O que aconteceu com eles? Esse é um dos mistérios investigados por Twitchell em seu livro, “Where Men Hide.” Por que, quando os bebês nascidos em períodos de crise se tornam adultos os americanos perdem o interesse em entrar para a maçonaria ou para o rosacrucianismo ou qualquer outra fraternidade como seus pais?

Alguns dos filhos da crise ficam tão ocupados em casa com novas responsabilidades como trabalhos domésticos e cuidar de crianças, e alguns consideram sociedades masculinas totalmente retrógradas após o advento do feminismo. Mas Twitchell não acha que o feminismo foi o motivo principal para o declínio das irmandades. Os homens ainda se entregam aos seus desejos de escapar de suas famílias, mas agora eles possuem outras opções.

Eles fogem para o computador e se afundam em canais televisivos de esporte. Eles saem com os amigos para jogar golfe ou andar de moto. Eles acham que prostíbulos são mais interessantes do que reuniões de sociedades secretas.

Quando eles procuram pelo auto-aperfeiçoamento moral, eles se juntam a outros homens em igrejas faraônicas ao invés de irem a reuniões que falam sobre teosofia maçônica. Eles não estão interessados em aprender, por exemplo, que o cimento que Washington colocou sobre a pedra angular do Capitólio era um símbolo de uma irmandade universal.

Como o número de membros dos maçons caíram (de mais de 4 milhões nos anos 1960 para menos da metade nos dias atuais), as reuniões tentam atrair novos membros afrouxando as condições de entrada na irmandade. É possível progredir de um maçom de primeiro grau para um maçom de trigésimo segundo grau em com apenas oito horas de instrução – conhecido como “todo o caminho em apenas um único dia.”

A irmandade que inventou o conceito da bola preta (não permitir a admissão de um membro em um determinado grupo) já tentou até fazer propaganda de si mesma para pessoas de fora da sociedade, com resultados previsíveis. Quem vai querer entrar em uma organização secreta que é aberta a qualquer um?

Recentemente alguns centros maçônicos voltaram a utilizar as regras da maçonaria tradicional, e eles assim conseguiram atrair alguns membros mais jovens (inclusive jovens da Geração X intrigados pelas teorias da conspiração de Dan Brown). A média de idade do maçom americano teve uma ligeira queda, apesar de os membros mais velhos estão morrendo mais rápido do que os jovens então entrando.

Twitchell não é nenhum saudoso dos dias de segregação sexual, porém ele reconhece que as organizações fraternais antigas estavam a serviço uma necessidade que ainda existe – e não está sendo supridas pela maioria dos locais utilizados pelos homens para “fuga”.

“Não há uma irmandade real em sair com os amigos para um prostíbulo,” Twitchell afirma. “A TV e a Internet não fornece o senso de comunidade e educação que os homens têm em reuniões de fraternidades. Não é por acaso que eles as chamam de “maternidades”.

Uma das razões para as mulheres viverem mais que os homens provavelmente é devido aos contatos sociais que elas possuem – ficar em contato com outras mulheres pelo telefone, almoços com colegas, clubes de leitura e ao fazer compras com uma amiga. Homens são mais propensos a ficarem sozinhos. Eles precisam de uma desculpa para procurarem um amigo.

Os homens necessitam fazer coisas como iniciar os novos membros ou eleger o mestre de maior valor da irmandade. O grande segredo dos maçons, a explicação para os chapéus engraçados, apertos de mão peculiares e palavras que são códigos, é que eles querem se encontrar e não conseguiram achar outra maneira que não fosse essa.




Curiosidades - Imagens dos locais referidos no texto.

Foto do Memorial Maçônico George Washington,
na cidade de Alexandria, Estado da Virgínia - EUA



Foto da estátua de George Washington com
cinco metros de altura, feita de bronze.



Foto do mural alusivo à instalação da pedra
angular do Capitólio, por George Washington.

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Queres Segredos da Maçonaria?

Então leia o que Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da história da língua portuguesa, escreveu sobre o Segredo Maçônico.

Pedras Evoluídas

O Sol nasce e ilumina as pedras evoluídas,
Que cresceram com a força de pedreiros suicidas.
Cavaleiros circulam vigiando as pessoas,
Não importa se são ruins, nem importa se são boas.

Chico Science, cantor pernambucano falecido em 1997. (Uma pedra “evoluída”?)